Oposição legal
Jacques Le Goff
No Brasil, há uma imensa produção acadêmica a respeito da luta antiditatorial e da reconquista e consolidação da democracia. No entanto, a simples consulta aos títulos dessas obras nos mostra seu universo. Majoritariamente, trata-se de estudos a respeito das esquerdas armadas que se levantaram contra o regime autoritário implantado em 1964 e sobre a consolidação do Partido dos Trabalhadores (PT).
Existem poucas obras, especialmente se compararmos as duas produções, a respeito do papel exercido pela oposição legal: o Movimento Democrático Brasileiro – MDB – quando nos detemos sobre o enfrentamento à ditadura, aos anos posteriores à anistia de 1979 e à promulgação da Constituição Federal de 1988.
Igualmente, há inúmeros depoimentos de opositores ao regime que pegaram em armas . Logo após a anistia, houve uma enxurrada de depoimentos de antigos militantes de grupos da esquerda armada, exilados , mas poucos, muito poucos daqueles que permaneceram no País e integraram a base do MDB.
Muitas vezes, as bases do Partido e sua direção (nacional, regional ou municipal) atuaram nos limites tênues e jamais muito claros entre o legal e o ilegal, sofreram intensa vigilância do aparato repressivo e pagaram preços altos por suas posições: cassação de mandatos, suspensão de direitos políticos, interdições arbitrárias, torturas.
Ainda há sombras, silêncios e mesmo preconceitos quando se fala sobre o papel do MDB na luta contra a ditadura civil-militar de 1964, na reconstrução democrática e na permanência do regime democrático há mais de 30 anos; e esse é o mais longo tempo de democracia vivido pelo Brasil.
Cabe ao próprio Partido quebrar o silêncio e trazer ao público documentação que pode indicar caminhos para a construção de conhecimento e dar voz a tantos que resistiram obstinada e, muitas vezes, silenciosamente ao arbítrio e à prepotência, aos que também construíram um país democrático, embora imperfeito.
Existe um longo caminho a percorrer para desvelar com clareza o papel do MDB tanto na resistência democrática quanto na construção e no fortalecimento da democracia brasileira.
Sobre isso, disse Ulysses Guimarães, especialmente ao enfrentamento armado ao regime:
Aí temos uma questão que nunca quis discutir. Na hora, porque era absolutamente inoportuno. Depois, em homenagem à memória dos que tombaram ou sofreram os horrores da tortura. Mas, um dia se fará justiça aos que escolheram o caminho da política convencional e que nem por isso foram poupados. Dessa relação, por dever de justiça, farão obrigatoriamente parte muitos comunistas que já haviam decidido trocar a luta armada pela ação política convencional no MDB e, por isso, enfrentavam dificuldades internas dentro do próprio PCB. Tivemos muitos mártires e foi essa a razão da minha citação de Rubens Paiva na promulgação da Constituição cidadã de 1988.
Como destaque, apresentamos nesse tema atas da Comissão Executiva Nacional do período mais duro da luta contra a ditadura, documentação basicamente inédita do período que compreende a formação e institucionalização do Partido (1966/67) até a reforma partidária que permitiu a formação de outros partidos políticos (1978/79).
Cabe aqui um agradecimento especial à senhora Marilda Castelo Branco, que por anos preservou com zelo e dedicação essas memórias e à senhora Elizabeth Ney Leão que nos auxiliou na digitalização dos documentos.
Referência:
GUTEMBERG, Luiz. Moisés, codinome, Ulysses Guimarães: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
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Oposição legal
No plenário da Câmara, o MDB exerce a oposição: Ulysses Guimarães, Freitas Nobre, Marcondes Gadelha, Marcio Macedo e Paes de Andrade
No plenário da Câmara, o MDB exerce a oposição: Ulysses Guimarães, Freitas Nobre, Marcondes Gadelha, Marcio Macedo e Paes de Andrade
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Oposição legal
Os jovens universitários que nao receberam a policia de braços abertos e saíram de braços para o alto, agosto de 1968
Revista: Manchete RJ
Ano: 1968
Edição: 856
Página: 14 e 15
Descrição: Os jovens universitários que não receberam a policia de braços abertos e saíram de braços para o alto.
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Oposição legal
Volks usado pela policia para forjar a tentativa de resgate do Dep. Rubens Paiva, foi metralhado e incendiado no RJ, 1972
Volks usado pela policia para forjar a tentativa de resgate do Dep. Rubens Paiva, foi metralhado e incendiado no RJ - Foto APESP - Fundo Jornal Movimento