50 anos 1974 – “Goleada da Oposição”

Quinze de novembro de 1974, feriado da Proclamação da República, era dia de eleições parlamentares no Brasil, 50 anos atrás.

O MDB lutava pela reconquista das liberdades democráticas e por sua própria sobrevivência depois de campanhas de segmentos políticos pelo voto em branco e dissolução do Partido e de inúmeras cassações de mandatos parlamentares. Batia-se contra o medo que as pessoas sentiam em associarem-se à oposição; mesmo sendo por uma via legal, integrá-la poderia custar um emprego, uma vaga em concurso público, ter sua vida constantemente vigiada.

Em 1973, Ulysses Guimarães havia percorrido o país com sua anticandidatura. Levava a todos as denúncias contra o estado de exceção e a necessidade de retomar os rumos do país através de um estado democrático.

Em abril desse mesmo ano, acabara a mais longa das ditaduras europeias. A revolta de jovens capitães – conhecida como Revolução dos Cravos – derrubara o regime salazarista  e colocava em xeque o regime colonial.

O Partido contava, até o início de 1974, com 786 diretórios; após a anticandidatura, já eram 3.000 diretórios. Dez anos após o golpe e oito anos após sua fundação o partido, nas palavras de Dr. Ulysses, se afirmou como alternativa política:

Havíamos desinibido a cidadania, desafiado o medo e montado uma máquina partidária que agora atingia o país inteiro.

O milagre econômico havia terminado, o mundo enfrentava as primeiras grandes crises dos países produtores de petróleo. A inflação e a dívida externa brasileira corroíam a capacidade de investimento do país e o poder de compra da classe média e dos mais vulneráveis, a renda concentrava-se. Já não havia crédito abundante, a principal fonte de energia do mundo havia encarecido muito e novos ventos sopravam de Portugal , o Brasil já não era um país predominantemente rural.

Havia ainda outra novidade, pela primeira vez aconteceriam  debates entre os candidatos das chapas majoritárias na televisão, no caso, os candidatos a senador.

A calmaria imposta pelo medo e pelas leis de exceção, especialmente o AI-5, era apenas aparente.

De fato, não havia grandes manifestações populares, essas eram duramente reprimidas.

Nos porões das Delegacias de Ordem Política e Social (DOPS) e nos Departamentos de Ordem Interna (DOI) se torturava e matava. Em 1974, segundo o dossiê “Ditadura, mortos e desaparecidos políticos no Brasil (1964-1985)”, no ano de 1974 foram mortos e/ou desapareceram 53 militantes políticos, entre eles militantes da esquerda armada e dirigentes do Partido Comunista Brasileiro (PCB); o PCB foi a única corrente de esquerda que somou-se ao MDB desde a fundação do partido. O deputado federal Francisco Pinto, mais conhecido por Chico Pinto, enfrentava processo de cassação por críticas ao ditador chileno Augusto Pinochet.

Nesse 15 de novembro, o povo brasileiro disse um sonoro NÃO à ditadura.

Foram eleitos 16 senadores de oposição e a confortável maioria da ARENA, partido de situação, viu-se ameaçada no Senado Federal.

Da mesma forma, foram eleitos 160 deputados federais pela oposição. Um enorme progresso que lhe permitiu barrar, por exemplo, emendas constitucionais, haja vista que a bancada da situação já não representava dois terços da casa.

O partido formou uma bancada de 22 senadores e 160 deputados federais. Em 1970, havia eleito 5 senadores e 87 deputados.

O Congresso Nacional, a partir desse marco, já não seria o mesmo.

A abertura “lenta e gradual” prometida por Ernesto Geisel, eleito pelo colégio eleitoral com ampla maioria da ARENA, teve seu curso alterado.

A vitória da oposição não ficou impune, a legislação antidemocrática ficou ainda mais dura com a Lei Falcão, mais mandatos foram cassados, mataram mais gente nos porões do sistema repressivo.

Não podemos deixar de citar o clássico estudo de Maria D’Alva Kinzo, “Oposição e autoritarismo – Gênese e trajetória do MDB (1966-1979)”.

O aumento da representação do MDB no congresso, como resultado das eleições de 1974, disseminou entusiasmo no seio da oposição; foi como se uma nova era se iniciasse para o MDB. Embora permanecendo como minoria no Congresso, o MDB possuía 44% da representação na Câmara dos Deputados e 30% no Senado. Esta representação deu ao partido a possibilidade de formar Comissões Parlamentares de Inquérito e de influenciar na decisão sobre projetos de emenda constitucional propostos pelo governo, já que este tipo de projeto precisava ser aprovado por dois terços dos representantes em ambas as Casas. Como a ARENA não mais possuía o necessário número de representantes na Câmara Federal, as emendas propostas pelo governo somente poderiam ser aprovadas se contassem com algum tipo de apoio do MDB. Desse modo, o fortalecimento da representação do MDB fez renascer esperanças de que o partido de oposição teria, finalmente, condições de participar mais efetivamente das questões legislativas.

 

Ainda haveria um longo caminho para a redemocratização do Brasil mas, em 1974, a oposição encontrou o caminho certo e o jeito de caminhar.

Goleada da Oposição (Revista Manchete)

1974, O Brasil começou a Mudar, nomes eleitos no Senado pelo MDB (Arquivo Naconal)

Senadores eleitos em 1974 - MDB

Senadores eleitos em 1974 - MDB

Simon preside a convenção do MDB e Brossard discursa no Plenário da ALRS dia 15/11/1974 (Foto Castro - Acervo FUG)

O duelo dos Senadores (Revista Manchete)

O Povo Falou (Revista Manchete)

MDB X ARENA (Revista Manchete)

MDB vence prévias na GB, RJ e S. Paulo (Jornal do Brasil - 16/11/1974)

MDB vence eleições e faz 12 Senadores, três ainda incertos (Jornal do Commercio RJ - 17/11/1974)

MDB assegura a vitória na maioria dos Estados (Jornal Cidade de Santos - 17/11/1974)

Oposição vence em quase todos os estados (Jornal Cidade de Santos - 17/11/1974)

Modelo de Folha de Votação - Eleição de 1974 (TRE-MA)

Mapa Eleições (Agencia Senado)

Apuração das Eleições - 17/11/1974

Apuração das Eleições - 18/11/1974

Apuração das Eleições - 19/11/1974

Apuração das Eleições - 20/11/1974

GB, resultados confirmam, povo preferiu o MDB (Jornal do Commercio RJ - 20/11/1974)

Deputados, a relação dos eleitos em SP (Jornal Cidade de Santos - 24/11/1974)

Revolução dos Cravos Em Lisboa um jovem soldado faz o V da Vitória depois que o regime salazarista estava deposto (Manchete)

Revolução dos Cravos - A Juventude foi a primeira parcela do povo a aderir abertamente a causa do Movimento das Forças Armadas (Manchete)

Ficha DOPS/SOPS de João Brusa Neto (Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul)

Ficha DOPS/SOPS de Nilso Basso (Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul)

Ficha DOPS/SOPS de Gunter Barth (Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul)

Ficha DOPS/SOPS de Nilso Basso (Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul)

Arquivos

Depoimento do Dep. Federal Baleia Rossi (Presidente do MDB)

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Depoimento do Dep. Federal Alceu Moreira (Presidente da Fundação Ulysses Guimarães)

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Depoimento de Nicéa Brasil, militante histórica do MDB/RS, sobre as eleições de 1974

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Senadores eleitos em 1974 (Arquivo Nacional)

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Boletim Eleitoral de 1974 (TSE)

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Ata eleição 1974 (TRE-RS)

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Eleição de 1974 - Capas da Zero Hora

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Eleição de 1974 - Debate na TV com candidatos ao senado, Brossard e Jost (Zero Hora)

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Os eleitos na Guanabara (Jornal do Brasil - 22/11/1974)

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Acre - Adalberto Sena eleito agradece sua eleição (Jornal do Brasil, edições 231 e 245)

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Rio Grande do Norte - Votação de Agenor surpreende Arena (O Poti, edição 2047)

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Guanabara - Danton Jobim recebe diploma e elogia o sistema representativo (Jornal do Brasil, edição 249)

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Espírito Santo - Dirceu Cardoso, termina a apuração (Correio Braziliense, edição 4653)

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Amazonas - Evandro Carreira eleito (Jornal do Commercio AM, edição 21738)

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Santa Catarina - Lazinho vence pleito em SC (O Estado, edição 17846)

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Sergipe - Gilvan Rocha vai para o Senado com 40 anos (Diário de Pernambuco, edição 311)

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Minas Gerais - Itamar Franco garante sua eleição (Jornal do Brasil, edição 224)

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Goiás - Lázaro Barbosa, oposição na frente em Goiás (Jornal do Brasil, edição 224)

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Paraná - Leite chaves levando uma boa vantagem (Diário da Tarde PR, edição 22386 e 22387)

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Pernambuco - Marcos Freire cresce no estado (Diário de Pernambuco, edições 309, 310 e 315)

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Ceará - Mauro Benevides tem vitória esmagadora (Diário de Pernambuco, edição 316)

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São Paulo - Orestes Quércia, é uma vitória dos anseios do povo (Jornal Cidade de Santos, edição 2648 e 6797)

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Rio Grande do Sul - Paulo Brossard eleito (Jornal de Caxias, edições 89 e 90)

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Paraíba - Rui Carneiro vence na PB (Diário de Pernambuco, edições 310 e 311)

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Rio de Janeiro - Roberto Saturnino, oposição sem contestação (Manchete, edição 1195)

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Ata de eleições de 1974 no Estado de Goiás (TRE GO)

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Ata de eleições de 1974 no Estado do Pará e Território do Amapá (TRE PA)

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Ata de apuração de eleições de 1974 na cidade de Santa Catarina (TRE SC)

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Relatório Impacto do aumento do petróleo (CIA Reading Room)

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Relatório Semanal Mudança Política Externa do Brasil (CIA Reading Room)

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Relatório Semanal: Geisel assume (CIA Reading Room)

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