Anistia 45 anos (1979-2024)
Nos contos de fadas os finais são felizes, as dificuldades sempre vencidas, os maus castigados e os heróis conquistam de forma plena seus objetivos
A história do MDB não é um conto de fadas.
Houve e há vitórias importantes, derrotas quase fatais, muitas adversidades e conquistas imprescindíveis, mas que nem sempre aconteceram exatamente como queríamos ou sonhávamos.
Pauta do MDB desde seu primeiro manifesto, a anistia de 1979, que em 2024 completa 45 anos, foi uma das mais significativas conquistas do Partido e da sociedade brasileira no processo de redemocratização pós-1964.
No entanto, não foi exatamente como almejávamos. Alcançamos a anistia possível naquele momento histórico, avançamos até onde nos foi possível naquelas circunstâncias e com as forças que nos foram possíveis arregimentar.
Enviado ao Congresso Nacional pelo General João Batista Figueiredo, ele mesmo filho de um perseguido político da era Vargas e depois anistiado, o Projeto de Lei nº 14/1979 recebeu 302 emendas.
É importante salientar que a Constituição Federal então vigente atribuía ao Presidente da República o poder exclusivo de concessão de graça ou anistia.
Não havia possibilidade do MDB apresentar seu próprio projeto, esse não teria qualquer validade.
No âmbito do Partido, talvez a personagem mais emblemática da luta pela anistia tenha sido o senador Teotônio Vilela, conhecido como “Menestrel das Alagoas”. Oriundo do partido governista, a partir de sua filiação ao MDB em trabalho estreitamente vinculado aos movimentos da sociedade civil – Movimento feminino pela Anistia (MFA) e Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA), CNBB, OAB, etc., percorreu o País nessa batalha.
No dia da votação, 22 de agosto de 1979, os debates foram acirrados e as galerias foram tomadas por militares vestidos de civis, na tentativa de constranger as manifestações dos oposicionistas. Ainda assim, muitos populares conseguiram entrar para demonstrar seu apoio à anistia ampla geral e irrestrita.
Substitutivos apresentados por deputados e senador do MDB – Ulysses Guimarães, Freitas Nobre e Paulo Brossard – cujo objeto era a ampliação da anistia proposta pelo governo militar, a emenda 7 teve seu pedido de preferência de votação rejeitado.
Algumas das propostas da oposição foram incorporadas ao texto final votado. Mas nem todas as reivindicações da oposição, entre elas a anistia aos crimes por motivação política cometidos por grupos de esquerda armada e qualquer tipo de sanção aos perpetradores de torturas, foram contempladas.
Em 26 de agosto de 1979, o General Figueiredo sancionou a Lei 6.683/79.
Parte do compromisso do MDB fora cumprido com a sociedade brasileira, mas ainda haveria mais lutas, particularmente no que se refere à implementação de políticas reparatórias, à soltura de todos os presos políticos e à localização e esclarecimento das circunstâncias em que ocorreram as mortes dos desaparecidos.
Em setembro de 1979, os primeiros exilados retornaram ao Brasil.
Em 1980, o último prisioneiro político do regime militar foi libertado, seu nome: José Sales de Oliveira.
O Presidente deposto em 1964 não foi beneficiado pela Lei de Anistia. Morreu no exílio, em 1976.
Em 2010, em julgamento de ação impetrada pela Ordem dos Advogados do Brasil, o plenário do Supremo Tribunal Federal julgou legal e constitucional a anistia aos perpetradores de torturas.
Fontes bibliográficas
Gaspari, Elio. A ditadura acabada. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016.
Delgado, Tarcísio. A história de um rebelde: 40 anos, 1966-2006. Brasília: Fundação Ulysses Guimarães, 2006.
Freire, Marcos. Nação oprimida. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
Brossard, Paulo. Chega de arbítrio. Porto Alegre: L&PM, 1978.
____________. Oposição. Porto Alegre: L&PM, [s.d.].
Arquivos e acervos
Acervo digital da FUG
Biblioteca Nacional
Arquivo Nacional
Arquivo Edgard Leuenroth
CPDOC FGV
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Anistia 45 anos (1979-2024)
Comitê Brasileiro pela Anistia - Reunião pública na ABI, 14/02/1978
Comitê Brasileiro pela Anistia - Reunião pública na ABI, 14/02/1978
Foto Athayde dos Santos - APESP - Fundo Jornal Movimento
Cód. Referência: BR_SP_APESP_MOV_ICO_AMP_015_016
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Anistia 45 anos (1979-2024)
O Sen. Teotônio Vilela, presidente, e o Dep. Ernani Satiro, relator, dirigem os trabalhos da comissão
Manchete - Edição 1427 - Página 146
O Sen. Teotônio Vilela, presidente, e o Dep. Ernani Satiro, relator, dirigem os trabalhos da comissão
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Anistia 45 anos (1979-2024)
Teotônio Vilela, Luiz Viana Filho e Marcello Cerqueira visitam presos em greve de fome na penitenciaria Lemos de Brito, no Rio
Teotônio Vilela, Luiz Viana Filho e Marcello Cerqueira visitam presos em greve de fome na penitenciaria Lemos de Brito, no Rio
Foto Ronaldo CPDOC
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Anistia 45 anos (1979-2024)
Teotônio Vilela visita aos presos políticos na penitenciaria Lemos de Brito
Teotônio Vilela visita aos presos políticos na penitenciaria Lemos de Brito
Foto Kbiju Kobayashi - Fundo Jornal Movimento - APESP
Cód. Referência: BR_SP_APESP_MOV_ICO_AMP_043_103
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Anistia 45 anos (1979-2024)
Pres. Figueiredo encaminha ao congresso o Projeto da Anistia, 27/06/1979
Pres. Figueiredo encaminha ao congresso o Projeto da Anistia dia 27/06/1979
Foto Orlando brito - APESP - Fundo Jornal Movimento
Cód. Referência: BR_SP_APESP_MOV_ICO_AMP_015_003
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Anistia 45 anos (1979-2024)
Bancada do MDB aplaude o discurso do seu líder Dep. Freitas Nobre
Manchete - Edição 1407 - Página 13 - Foto Rolnan Pimenta
Bancada do MDB aplaude o discurso do seu líder Dep. Freitas Nobre - Projeto do MDB para anistia ampla e a inflação de 4% no mês de março
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Anistia 45 anos (1979-2024)
Votação do projeto da Anistia em Brasília dia 22/08/1979, fim da sessão
Votação do projeto da Anistia em Brasília dia 22/08/1979, fim da sessão
Foto Orlando Brito - APESP - Fundo Jornal Movimento
Cód. Referência: BR_SP_APESP_MOV_ICO_AMP_015_013
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Anistia 45 anos (1979-2024)
Votação do projeto da Anistia em Brasília dia 22/08/1979, fim da sessão
Votação do projeto da Anistia em Brasília dia 22.08.1979, fim da sessão
Foto Orlando Brito - APESP - Fundo Jornal Movimento
Cód. Referência: BR_SP_APESP_MOV_ICO_AMP_015_014